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sábado, 13 de junho de 2015

APROVAÇÃO EM CONCURSOS PÚBLICOS: MÉTODOS E TÉCNICAS PARA ESTUDO (SEGUNDA PARTE)

(...) Continuação


3. Método.
  
 Quanto ao método, embora alguns sustentem que cada um deve desenvolver o seu, vejo em tal afirmação um grande risco: o candidato pode trilhar um caminho errado e perder tempo.

    Ouso afirmar que o candidato não deve pretender inventar a roda. Deve sim apropriar-se, no bom sentido, das melhores ideias alheias, ou seja, utilizar os “mapas” de quem já descobriu o tesouro da aprovação.

   Entre tentativas e erros, e, sobretudo, buscando assimilar a experiência de outros aprovados nos mais diversos concursos, consegui entender a "lógica dos vencedores". 

     Quando ainda era aluno da graduação, jamais me preocupei com a nota dez. Procurei sim assenhorear-me, definitivamente, do conhecimento que estava a minha disposição (sem nenhum demérito aos excelentes professores que tive, bem mais na biblioteca do que no cabedal jurídico oferecido por meus mestres). 

    Não esperava nada da escola. Sabia que o conhecimento ali obtido, igual ao de qualquer outro curso de graduação (não importando o quão bem conceituado pudesse ser), não forneceria o conteúdo necessário para que eu alcançasse meus objetivos. 
       
    Fazia meu próprio plano de estudos que, assinale-se, não guardava qualquer compatibilidade com a ordem prevista na grade curricular de minha universidade, pois entendia que o cérebro é dotado de um estranho mecanismo de preservação e descarte de informação.

      Ou seja, o cérebro tende a registrar a informação incomum, as diferenças e as afinidades entre as mensagens recebidas e descartar ou manter em memória de curto prazo. 


      Isso porque, como se sabe, o cérebro possui três tipos de memória: a memória sensorial, a memória de curto prazo e a memória de longo prazo.


     A memória sensorial constitui-se de um sistema de memória que através da percepção da realidade pelos sentidos retém por alguns segundos a imagem detalhada da informação sensorial recebida por algum dos órgãos de sentido. É responsável pelo processamento inicial da informação.


      A memória de curto prazo é quem recebe as informações provindas da memória sensorial e as retém por alguns segundos, minutos, horas ou dias para que sejam utilizadas, descartadas ou mesmo organizadas para serem armazenadas na memória de longo prazo.


      A memória de longo prazo é quem recebe as informações vindas da memória de curto prazo e as armazena. Possui capacidade ilimitada de armazenamento e as informações ficam nela guardadas por tempo ilimitado. É responsável pelas seguintes operações: armazenamento, esquecimento e recuperação e está interligada por uma rede de esquemas e será esta a maior responsável pela aprovação em um concurso público (mas, como se verá, a memória de curto prazo também será útil para revisões na véspera da prova)



      Como então enviar as informações, retidas temporariamente na memória de curto prazo, para a memória de longo prazo?.
 
     A memória de longo prazo, tal qual um arquivo organizado por uma secretária alemã, não aceita armazenar as informações de qualquer jeito. Para que as receba devem estar organizadas, consolidadas, distribuídas por padrões, semelhanças, diferenças temas, subtemas, etc.

     Concluí, no meu ainda rude e empírico processo de aprendizado, que o direito, assim como outros ramos do saber humano congêneres, não é difícil de aprender, é apenas muito extenso. Há muita informação para assimilar e não há tempo a perder. Todo o tempo disponível deve ser utilizado e a informação colhida deve ser cuidada como uma joia valiosa para que a memória de longo prazo a receba.
   
     As técnicas mais utilizadas por quem busca assimilar informações e conteúdos e enviá-las para a memória de longo prazo são as seguintes:

1-   Leitura simples
2-   Leitura e releitura com destaques (grifos);
3-   Métodos mnemônicos;
4-   Visualização;
5-   Elaboração de resumos;
6-   Formulação de perguntas e questionários;
7-   Autoexplicação ou aulas para si mesmo;
8-   Leitura de temas intercalados;
9-   Estudo intercalado com a prática de testes (exercícios ou questões sobre a matéria).
        
     Qual a melhor técnica?

    
    Todas as técnicas relacionadas são úteis, mas as que mostram melhores resultados, segundo pesquisas recentes (Psychological Science in the Public Interest), são aquelas que intercalam leitura organizada com a prática de exercícios. Por seu turno, as técnicas que tem piores resultados são aquelas com simples leitura ou leitura em que tão somente se grifa palavras ou frases do texto.

      Daí há de se perguntar: como melhorar o aproveitamento da leitura se o simples ato de grifar tem pouca utilidade?

     Da minha experiência posso ensinar o seguinte:

     Leia e anote no próprio livro ou apostila (nas margens laterais, superiores e inferiores, com poucas palavras, os pontos mais importantes da página que leu). Depois de cada capítulo faça uma rápida revisão relendo somente as anotações que você fez na primeira leitura. Também releia suas anotações no dia anterior a data da prova (neste caso a memória de curto prazo será acionada). Você verá a diferença no seu número de acertos.

     No mais, todas as técnicas são válidas, mas não aconselho que se estude elaborando resumos muito detalhados pois os programas dos concursos são muito extensos e o candidato corre o risco de não conseguir estudar todo o conteúdo necessário antes do dia da prova.

     3.1. Então, por onde devo começar?


    Preparadores físicos ensinam que quem resolve praticar corrida como atividade de condicionamento físico deve iniciar com um pequeno trote, que pode ser tão lento que uma senhora idosa caminhando poderá ultrapassá-lo. Somente com o passar do tempo e a medida que os músculos, as articulações e os pulmões se adaptam e se fortalecem é que se deve aumentar a distância, o tempo de corrida e a velocidade.

   Assim também deve ser feito na corrida preparatória para concursos públicos.


    Não é recomendável que o candidato inicie sua preparação em “louca disparada em direção a granada”, estudando dez, doze, quatorze horas por dia, lendo dezenas de livros e resolvendo centenas de questões, pois por certo cansará ou desanimará em alguns dias ou em poucas semanas.


   Comece com o tempo que tiver disponível (ainda que sejam somente 30 minutos por dia), leia três páginas de um livro ou resolva cinco questões, pois daí por diante, uma vez estabelecida a rotina, o aumento da dedicação aos estudos e o consequente progresso acontecerão naturalmente.

   
    Já adquiri o hábito de estudar diariamente. E agora?  
  
   Depois de estabelecido o hábito sério e compromissado de estudo diário, após rápida leitura do programa do edital anterior, antes de cair nos livros, deverá o examinar despretensiosamente questões já cobradas em concursos anteriores (cargos que você almeja ou de quaisquer outros que tenham relação com sua qualificação profissional). Ou melhor, que leia as questões e confira a assertiva correta no gabarito. 

    Isso permitirá que o candidato não estude a esmo e que, desde logo, familiarize-se com as questões mais cobradas em concursos públicos. 

    Desse modo, o candidato logo perceberá que algumas questões tendem a se repetir (com apenas algumas modificações) e que isso representará de 20 a 30 % dos conteúdos das provas futuras. Daí para frente convém que sempre se reserve algum tempo para estudar por questões já aplicadas em concursos anteriores, pois como já registramos essa é a técnica que permite a maior assimilação do conteúdo.

     Contudo, faça-se uma advertência: o candidato não deve cair na armadilha de estudar somente o que gosta. O concursando, sem querer acaba incorrendo nesse erro. Deve, sim, tentar reservar mais do seu tempo buscando aprender o que não sabe.    

   Ainda nessa primeira etapa, em que o candidato ainda está formando sua base de conhecimentos (ou base fundamental de informações), deverá tornar-se um “especialista em generalidades”, pois desse modo, obterá uma visão geral de todas as matérias que serão cobradas.

    Nessa ordem, não importa se a matéria é direito ou física: comece estudando os princípios. É que se você tem domínio sobre os principais postulados de uma ciência, além de facilidade para assimilar outros assuntos relacionados, o candidato terá a possibilidade de acertar a questão certa sem ter estudado diretamente o tema.

      Assim sendo, embora o candidato saiba bem pouco sobre a teoria da relatividade de Eistein, se entende que a relação tempo/espaço pode variar de acordo com o ponto de observação, a resolução de questões relativas à fórmula E=MC² não será exclusividade de Sheldon Cooper e sua turma (Big Bang Theory), se, como noção geral, sabe que a massa pode ser convertida em energia e vice-versa.

     Da mesma forma, embora o candidato não saiba ou não tenha certeza se determinado fato é tributável, se conhece a máxima, pecus non olet (o dinheiro não em cheiro), raciocinará que, em regra, qualquer ganho pecuniário será tributável.

    Nesse caminhar, ao objetivo de formar a sua base de conteúdos, indico aos candidatos estudarem uma disciplina por vez.
       
    Por exemplo, no caso dos candidatos a concursos jurídicos para cargos em que se exige conhecimento mais amplo, recomendo a leitura de um livro base inteiro para cada uma das principais disciplinas. Já para os concursos com conteúdo mais reduzido, aconselho uma leitura inicial no programa previsto para aquela disciplina.
       
      Nessa fase o concursando deverá organizar cada disciplina por categorias para facilitar o aprendizado.
      
    Por exemplo, se você está sendo submetido um teste de memória em que deverá anotar o nome de tudo o quanto lhe for mostrado em uma tela de projeção, caso opte por memorizar, uma por uma, todas as imagens que lhe forem apresentadas, provavelmente, obterá um resultado muito ruim.
      
    Se de outro modo optar por armazenar as informações em categorias, obterá resultados muito melhores utilizando uma espécie de “check list”. Confira no exemplo.
       
   Ao visualizar as imagens, você constará a presença de ilustrações de cães, gatos, leões, girafas, peixes, baleias, golfinhos, pás, enxadas, arados, serrotes, martelos, prumos, fichários, grampeador, computador, mesas, etc.

    Em tal exemplo, se você se preocupar em estabelecer categorias, por certo localizará de imediato  três conjuntos sem muita dificuldade:  a) animais, b) ferramentas e c) equipamentos de escritório.

       Feito isso, basta fechar os olhos e passar em revista todos os elementos que compõem aquele conjunto de coisas. Por exemplo, perguntando: na categoria ferramentas existe picareta? Não. Existe martelo? Sim.
   
      Daí em diante, você poderá estabelecer subcategorias e assim lembrar-se de mais imagens. Por exemplo, se distingue uma subcategoria de ferramentas de carpinteiro, poderá lembrar-se de ter visto uma plaina e um formão. Da mesma forma poderá identificar subcategorias de animais domésticos, animais selvagens, marinhos, etc.
    
      Se trouxermos o exemplo acima para o direito, veremos que a Constituição Federal é formada por títulos, capítulos e seções. E que isso nada mais quer significar do que categorias e subcategorias.

     Isso permitirá que o concursando, após identificar os principais pontos de cada disciplina em linhas gerais, na próxima etapa “densifique” os seus estudos, assim mergulhando mais fundo em cada um dos temas e estudando assuntos mais específicos (que, por exemplo, serão cobrados em provas discursivas).
       
    Nesse caso a imagem que se pode sugerir de um concursando em processo de preparação é a de alguém pintando um quadro: 

    primeiro esboçará as primeiras linhas que conferirão forma a obra. Depois acrescentará as cores básicas, as nuances e por último, os detalhes e, por fim, o acabamento.

 3.2 – Rodar logo o edital ou ler um livro-base de cada matéria?

   Quem vai iniciar seus estudos, conforme já pontuamos, deve primeiro construir uma base geral, um alicerce sobre o qual irá erguer o edifício do seu sucesso como candidato.

   Assim, deve começar lendo, de capa a contracapa, um livro-base para cada uma das matérias-eixo (em concursos menos complexos, deverá percorrer todo o conteúdo programático de cada matéria).

   Na área jurídica as matérias-eixo são: direito constitucional, administrativo, civil, penal, processo civil, processo penal e tributário. Em outras áreas língua portuguesa, contabilidade geral ou matemática financeira e raciocínio lógico.

   Não se deve começar a estudar lendo um livro muito denso e muito voltado para o mundo acadêmico, assim como também não aconselho cartilhas jurídicas ou os tais resumos do resumo esquematizados. É que assim como um “calhamaço” pode dificultar o aprendizado e, eventualmente, até desanimar o candidato um livro ou apostila incompletos podem fazer com que o candidato chegue à reta final com uma preparação incompleta.
   
     Nessa ordem de ideias, o candidato deverá iniciar seus estudos manuseando um livro-base objetivo e que cuide da matéria mais abrangente.
  
     Desse modo, por exemplo, na área jurídica, aquela que cuida de todos os ramos do direito: o direito constitucional, que é pai e mãe de todos os demais ramos do direito. É que, para além de tratar de suas próprias especificidades, também inclui o direito administrativo, processual, civil, penal, tributário, financeiro etc.
   
    Na terceira e última parte, cuidaremos dos temas estratégia para enfrentar as provas com pontuação acima dos concorrentes (ou da média de corte), compromisso e perseverança.

  Por Airton Portela, Professor, Juiz Federal, ex Analista, ex-Advogado da União e ex-Procurador Federal 

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